O ENCONTRO COM BEUZ
Quando chegamos lá no coração do mundo, que nem parecia um coração, não tinha nada de mais. Era um campo gigantesco, parecia gramado baixo, e intocado. Verdão cara!
Eu corri pro meio do campo, feliz! Cara, era um verde que eu nunca tinha visto... super... cheio de vida, parecia que a grama estava entrando em contato com meus pés (descalços, porque nenhum filho da puta me ofereceu um chinelo) e me dizendo coisas...
-Eu quero a arma! – eu falei...
E a arma apareceu, na minha mão! Não era uma engenhoca, nem uma arma de ferro, como essas que vemos com os bandidos todos os dias. Era uma luz, azul, brilhante demais. Meu corpo a absorveu, quase que imediatamente.
Senti que estava mais poderoso que antes, e menos irritado também.
Aí, pra estragar o meu momento Glamour, chega correndo um cabeçudo infeliz, e cochicha algo para o Ancião.
-Meu senhor, as tropas estão há seis horas daqui, precisamos comunicar a Guarda Real e ao humns para que venham lutar!
-Lutar! Isso! O que? Lutar? Agora? Mas eu nem treinei, nem deu aquela musiquinha enquanto eu treinava, lutando e talz... pra depois, de passarem treze meses, eu estar preparado pra lutar contra o vilão do filme...
-Este não é um Filne senhor – disse o ancião, e ele foi meio grosso sabe? Doeu. – vou enviar o comunicado às tropas, o general virá para comandá-las.
-Cara, é isso... Os deuses nunca se metem nessas coisas, sabe? Na verdade, o rei faz tudo e o deus só dá poderezinhos, é assim que tem que ser.
-Isto é o que o senhor criou – disse o ancião - apenas seguimos a palavra Maior do que foi dito.
-Vocês são meio sem vontade própria, né? Pow, cara, tem que revolucionar, só pq eu disse que o capim é verde, vc não precisa, necessariamente, aceitar que ela seja! Grite comigo, pra q eu mude! Democracia, já!
-Amamos, louvamos e respeitamos nosso deus, acima de qualquer coisa ou criatura.
-Tá, se vocês insistem, eu deixo que continuem – eu falei, tava me sentindo muito, cara – Ta, mas manda o rei vir tbm, ele ta achando que eu vou segurar o pepino sozinho? Vou ficar aqui, sentadinho, esperando ele chegar. E vocês, movimentem-se, vão aprender coisas, coisas de guerra, hein!
E fiquei sentado no gramado, olhando as pessoas trabalharem, e bebendo de um copo que apareceu na minha mão quando senti sede, e fazendo ele sumir em seguida; aquilo foi bom, e eu gostei! ;)
Cara, aí eu vi uma nuvem preta vindo na nossa direção, entre as montanhas mais altas de Cinnamon, vinha planando uma fumaça, parecia densa, talvez gordurosa, mas, era uma parada que amedrontava.
-Beuz, ele nos encontrou.
Meu momento, acabara... Eu estava magnífico dando uma de deus de tudo, aí chega o outro querendo tomar o poder... eu nem fiz nada ainda, cara! Só criei essa merda de mundo, onde não posso comer ninguém e ainda sou um filantropo de merda que nem saber fazer as coisas direitas... Nem aprendi os truques e tal! Vem o babacão, pra querer tomar meu lugar, fala sério...
-Ora, ora, ora... Se não é o Deus Todo Poderoso, que há muito não vemos!
-Não vê porque não quer, seu bobão... Eu sempre apareço, e eles disseram isso...
-E então, sei que já conseguiu a arma para destruir-me, mas, será que também terá coragem de destruir as suas tão preciosas criações? Todos os outros deuses?
-Olha, você é estranho! Eu nem lembro do que criei, então, não faz diferença matá-lo com deuses, ou matá-lo sem eles... Tenho que matar alguém, senão essas criaturas cabeçudas vão querer me matar!
-Que lastimável a sua situação – disse Beuz, e ele era igualzinho a mim, até na cara de nojo! – Você tinha o respeito e o amor de todo esse povo, até dos que hoje me seguem... Mas, você preferiu uma vida atormentada, naquele lugar imundo... Com pessoas imundas! O nosso mundo precisava muito mais de você, e você não se entregou a ele!
-Isso é rancor, cara, e rancor não é bom – eu falei, preocupado de verdade com ele – eu vivo lá, bicho, minha família me ama, se eu sumo de repente, as coisas ficam críticas... E por isso deixei você aqui, sacou? Você é a minha irresponsabilidade, meu vicio, minha ganância... Você é a parte de sentimentos que lá, não funcionam na sociedade... Aqui não! Existem outros deuses, que podem ser tão fortes ou iguais a você... E você pode usar isso em seu favor...
Aqui você é, o que você é, não há máscaras... Todos sabem que você gosta das artes das trevas, do poder, da excentricidade... mas, ninguém quer culpá-lo por isso, só não precisam aceitá-lo, brother! Ninguém precisa aceitar ninguém, é só respeitar-se, tudo vai dar certo.
-Mas nós ficamos abandonados de conselhos! Abandonados de crenças! Abandonado de conhecimentos! Você nos trancou aqui, para que não atrapalhássemos o seu mundinho perfeito, mas, não deixou seu conhecimento para que fosse usado... Porque guardá-lo só pra você? A idéia não é transmutação? Não é entrega e troca? Troque então com o povo que te amou por todo esse tempo e que você não lhe deu ensino!
*pause*naquele momento, eu vi o monstro que fui, brother. Eu tinha criado monstros que poderiam conviver em harmonia com todo o resto... eu poderia ter criado o caos, que sempre seria controlado... mas, eu, na verdade, criei uma fera, abandonada, esquecida... e era isso o que eu merecia, o repudio dele, e de todos os outros deuses, que, como fontes de conhecimento, mereceriam conhecer mais, saber mais, ter mais...*play*-Eu confesso, Beuz, que errei, e aqui estou, para redimir meus erros – disse-lhes, a todos os presentes – Poderia ter dado muito mais do que lhes dei até hoje; mais do que dei a qualquer um até hoje. Peço que liberte seus irmãos. Vamos esclarecer isso agora.
Quando terminei de falar, já não estávamos mais naquele campo gramado, estávamos num lugar com muitas pedras, e alguns pedregulhos, que serviam de banco, no centro, uma grande mesa de pedra, ao ar livre.
Beuz estava sentado imediatamente a minha frente, quando abriu a capa, luzes piscaram e voaram para os acentos... Eram todos os deuses que eu havia criado um dia.
-Por que seqüestrou os deuses, Beuz?
-Não seqüestrei ninguém! – ele gritou, irritado – Todos estávamos juntos na idéia de destruí-lo, pois sua autoridade muda aqui, não nos serve de nada; queremos uma voz, alguém que organize essas criaturas que nem sequer sabem onde é o norte (engoli em seco).
-Então, porque todos dizem que você seqüestrou?
-Achamos melhor deixar a idéia de que eu era o único a entrar nessa briga, para não comover alguns Humns que ainda se mantém fieis e fervorosos a você, mesmo sem nunca terem uma resposta. Se todos nós assumíssemos a Aliança Divina em publico, e o plano falhasse, somente eu sairia prejudicado... A fé neles continuaria, e ninguém perderia seus poderes... Afinal, é a Fé dos discípulos que engrandece o mestre.
-Nossa, que plano imbatível! – eu zombei – Eu acho que podemos resolver isso mais facilmente... Não precisam mancomunar contra mim, eu me entrego.
-O que?! – vários deuses gritaram, sem entender.
-Eu me entrego, foi o que falei; deixarei aqui um único deus maior, que regerá a todos os outros deuses, e quero que ele seja justo e bom!
-Mas e toda a guerra? A violência? O sangue? Ué, assim, fácil? – Beuz falou, entristecido.
-Deuses não guerreiam entre si, imaginem como ficaria a cabeça dos homens, que todos sois deuses, se nós, brigássemos? Eles já brigam muito por nós também. Precisamos esclarecer que, Cinnamon precisa de cuidados, se Beuz quer ser o mau, então, o mau ele será... Se a Deusa da Sabedoria, quer ser sábia, então, sábia ela será... não temos que criar problemas, temos que resolvê-los!
"Estamos abrindo, neste momento, a Reforma Divina".
*pausa*puta que o pariu! Me senti foda por estar fazendo uma reforma de alguma coisa. Os caras só precisavam conversar bicho, nada demais...
vamos lá.*play*-A deusa da água e da vida, cadê? – perguntei.
Uma mulher se apresentou; branca, de cabelos negros, dentes grandes e uma beleza excêntrica, levantou-se. Era parecidíssima com a Tay, maluco...
-A deusa da madeira e da saúde?
Uma outra, negra, gorducha, baixinha e de cabelos curtos levantou-se, séria, ela apenas maneou a cabeça, essa era igualzinha a Nati!
-A deusa da caça e da virtude?
Uma banca também, de cabelos negros, levantou. A cara era séria, mas, era de sorriso frouxo, se a Amanda fosse gêmea, aquela seria sua irmã.
-A deusa da floresta e da sabedoria?
O espírito da arvore sorriu-me, satisfeita.
-A deusa da música e do encanto?
Uma parda de cabelos cacheados levantou-se, tinha dentes grandes também, e estava tímida, cara, era a Jéssika, queria até mandar beijo, mas ela tava séria demais.
-A deusa do fogo e da magia?
Uma mulher de cabelos crespos e cheios, com um olhar sério e uma feição conhecida ergueu-se, era a Carol! Puta que o pariu... Até ali aquela mulher me perseguia!
-O deus da terra e da esperança?
Um outro homem, baixo, de nariz curvo, mas, aparentemente amigável, levantou-se, com um sorriso enviesado... Não conhecia ele de lugar nenhum.
-O deus da lava e da guerra?
Beuz sorriu-me maquiavélico; e me vi, ali, sentado do outro lado.
-Todos concordam que um novo deus maior seja proposto?
-Não, - disse a deusa da água – mostrou ser o nosso deus, neste momento.
-O que? – Beuz, gritou, e a mulher ergueu-se imediatamente – Ele não mostrou nada! Foi ele que nos abandonou por todo esse tempo! Lembram? Ou já esqueceram de como foi ficar sem poderes por quatrocentos anos?! Ele nos proporcionou isso. Só ele!
-E porque ficaram sem poderes?
-Porque nossa magia, vem de você! Se não está aqui, não temos poderes... Quatrocentos anos de uma sub existência, tendo de ver cada Humn como um igual, porque estávamos presos num mundo, onde não éramos nada, e nem a ele pertencíamos!
-Cara, mas eu não sabia disso... Desculpe...
-Não sabia?! Mas foi você quem declarou isso: ‘enquanto eu não estiver em Cinnamon, nenhuma magia irá existir’... Porque? Porque você achava que nós usaríamos nossos poderes de forma errada, só a sua está certa, sempre...
-Mas, por que eu faria isso? Não vejo motivos, cara...
-Beuz sabe os motivos, mas, ele prefere não dizer, porque estes mesmos motivos o condenam – disse a deusa da floresta.
-Na sua primeira ida ao Reino de Fora, eu consegui achar formas de encanto diferentes das que você julga boas.. E por isso, quando voltou proibiu a todos de usarem a magia.
-Hum.... E agora você acha que eu tenho culpa disso e quer me destruir para reinar sozinho no mundo todo?
-Senhor, pelo menos, libere a magia em nosso mundo, enquanto estiver fora... Sem magia, esta terra é inútil... Esta terra nem existe – falou a deusa do fogo, como se rogasse.
-Então, eu julgo que magia é bom, até mesmo quando eu não estiver; julgo também que, em minha ausência, a Deusa da Floresta e da Sabedoria, deverá ser tomada como poder supremo; julgo que Beuz é um deus ruim e não merece o conselho, deverá ser cultuado pelos céticos e pelos de alma impura e corrupta, seus altares não estão sob nossos olhos, pois estarão abaixo da terra, e o altar que em cima dela estiver, será vandalizado e destruído; julgo que o mal deverá existir, portanto, Beuz será deus, para que nós possamos ser deuses também; julgo ainda que cada deus deverá escolher um Humns como porta-voz, e somente através deles poderão falar com o resto do mundo; julgo que toda ciência evoluirá, mas quebrará quando isso for perigoso; julgo que as plantações de Avre se perpetuarão, mas que serão destruídas se o mal exterior tentar penetrar; julgo que negro será o pavilhão de Beuz, e verde será o meu; julgo que seremos inimigos, mas jamais seremos inimigos dos Humns, pois a guerra deverá ser vencida por um dos lados, e a vida terá de ser criada por alguém; julgo que mesmo livre, a magia deve ser controlada, e entregue nas mãos dos que poderão fazê-la uma coisa maravilhosa.
E tudo aconteceu tão rápido, que nem dava pra dizer ‘adeus’. Os deuses voltaram pra seus lugares, ou foram colocados onde disse que era pra estarem. Beuz gostou do meu veredicto, pois sabia que ter alguém com quem brigar o tempo inteiro, era bom, e viu que tentar governar o mundo todo, teria que ir muito além do que fingir que todos os deuses pensavam como ele.
Tipo... o rei apareceu, do nada... e seu semblante era de paz.
-Meu Senhor, agradecemos honrosamente sua estadia e sua ajuda em nosso propósito – ele disse - Mas, creio que o senhor precisará comer um pouco mais de Avre, para não retornar ao seu mundo a qualquer momento...
-Mas é só eu imaginar...
Bicho, acordei e senti uma dor de cabeça de leve... virei na cama, meio com sono ainda, e vi uma coisa esquisita no meu guarda-roupa, ah, deve ser Aslam, virei pro lado, e continuei dormindo... Eu lá quero saber de Aslam?!