História Extra

Rapaziada... Estava eu, aqui, na monotonia diária que tornaram-se minhas férias; aí, já viu né? Quando a mente tá vazia, a oficina é de quem??? É isso, você acertou, do Diabo.
Escrevi um primeiro capítulo de algo que nem eu sei o que é... Mas, aí vai... Espero receber notícias do que acharam, mesmo que seja 'Pelo Amor de Deus, aceite Jesus'...

Beijos!

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-CAPÍTULO UM-
O Homem Que Queria Morrer

Ele caminhava lentamente, observando os detalhes da noite que lhe pertencia; sim, pertencia pelo fato de ter Reinado por tantos séculos. Era o Senhor da Noite, aquele que aterrorizara centenas de pessoas, nos séculos que acompanhou. Guiava a escuridão da forma que bem entedesse, de forma a deixar o caos instaurado, mas de maneira controlada, sabia a hora de acalmar seus desejos de uma destruição provável daquela vida medíocre de muitos mortais, que não ligavam para coisas tão banais, como o sobrenatural.
Mas, era hora de aposentar-se; era hora de morrer. Aquilo tudo já o havia cansado, deixado exausto com séculos seguidos de dias iguais: dor, morte e crueldade. Já não lhe dava tanto prazer quanto antes, e aquele era o sinal de que viver já não era tão importante... E ele sabia que morrer seria mais difícil do que continuar a aterrorizar pessoas. Estava preparado para o que tivesse de fazer.
Chegou ao local marcado com meia hora de antecedência. Sabia que o outro, o que tinha o segredo para sua morte, não estaria lá. Talvez chegasse até muito mais atrasado; mas, aquela noite não lhe inspirava o desejo de propagar a sua existência cruel.
Olhou a capela; analisando cada detalhe daquele lugar destruído... Até mesmo aquele prédio havia nascido, vivido e morrido. Ele viu o prédio se erguer, pelas mãos de escravos; acompanhou o processo de vida daquele lugar, as missas, as festas, os encontros dominicais, tão preciosos; e agora estava ali, no que sobrava daquela capela que antes fora cheia de vida.
'O ciclo da vida vale para tudo, também terá de valer para mim', pensou.
E ele continou a olhar o lugar, vendo que séculos de vida lhe deram uma característica saudosa. Ele imaginou quantas pessoas haviam passado por ali, desde que ele próprio estivera naquele local; quantas pessoas choraram a perda de entes queridos, tantas outras teriam sorrisos nos lábios e lágrimas de emoção nos olhos, batizando, perante 'O Todo Poderoso', seus filhos, sobrinhos e netos? É... Muita história havia acontecido ali.
Um sentimento ruim apossou-se dele; talvez ele mesmo não houvesse sofrido tanto se não tivesse tido um irmão. A culpa, na verdade, não era dele, mas, do irmão que fora posto em seu caminho, para lhe proporcionar dias amargos de inveja e ganância. Ele não era um vilão, ele estava lutando por seu lugar de direito. Tinha mais idade, mais corpo, mais beleza; e o que o outro tinha?
'Foi bom mesmo tê-lo matado', inquietou-se, já achando ruim a espera de seu 'salvador'.
Concluiu, por fim, que a culpa não era dele; talvez nem mesmo do maldito irmão. Seus pais poderiam ter algo a ver, mas, na verdade, Deus havia lhe colocado em uma emboscada, e ele caíra; ele fora vítima de uma armadilha divina! A conclusão era óbvia! Deus o havia testado, mas o teste fora difícil demais para alguém como ele... Brincar de tirar o doce mais saboroso no momento em que a boca está amarga, é cruel. E Deus, segundo ele, havia sido cruel. Isso mesmo, crueldade.
-Ora. Nunca achei que este dia chegaria! - disse a voz fria que ecoou, vívida, pelas paredes decadentes da velha capela.
Um outro homem, entrava pelas ruínas, trajando um sobretudo que cobria sua camisa pólo vermelha-sangue e uma calça jeans personalizada, seu all star era preto, básico; tinha cabelos negros como a noite, um olhar atraente e convicente, o cavanhaque deixava seu rosto com um aspecto mais responsável, ou acreditado. Era bem apessoado e parecia feliz com o encontro.
-Para quem parece tão ancioso, demorou bastante - disse o outro, impaciente.
O segundo riu, achando graça na impaciência.
-Acha que é fácil infernizar a vida dos outros? - ele falou, rindo debochadamente - Diga-me, a que devo a honra deste encontro?
O primeiro, que vestia uma camisa de malha branca, com uma estampa modernista e, também, calça jeans, olhou para o homem de camisa pólo, como se o tivesse visto a primeira vez aquela noite. Seu rosto era belo, traços finos, dentes perfeitos, olhos profundos e rancorosos, mas, ainda assim, era belo.
-Preciso morrer.
A gargalhada que se fez ouvir, foi, de fato, diabólica. O segundo homem parecia não acreditar no que ele dizia.
-Qual o seu plano, inteligência?! Quer um punhal emprestado? - e ele riu, mais uma vez.
-Páre de rir! Não é engraçado! Preciso que me ajude. Quero morrer. Preciso morrer.
-E como acha que posso ajudá-lo? Talvez pedindo diretamente a quem lhe deu o dom de viver para sempre?!
-Isto é uma maldição! Você sabe bem, Lúcifer, que há uma forma de eu morrer... Eu sei que você tem esta informação e a quero.
-O que lhe garante que vou falar? Acho que esqueceu a ordem hierárquica da coisa, não? Ele - e Lúcifer fez um gesto com o indicador, apontando para cima, com uma careta -, Eu, - e apontou para si, com um sorriso e estufando o peito - aí sim, você. Lembrou-se?
-Eu coloquei mais pessoas sob sua guarda do que qualquer outro! Não me diga que não vai fazer, eu é quem fiz o inferno ficar povoado!
-E agradeço, meu caro, jamais esquecerei - Lúcifer disse, e olhou com sarcasmo - Mas não posso perder minha galinha dos ovos de ouro...
O homem pulou tão rapidamente, que qualquer pessoa ali não teria percebido a atitude. Segurou Lúcifer pelo colarinho e o suspendeu do chão; seus olhos estavam injetados de ódio, estavam avermelhando-se. E ele bufava.
-Fiz muito por você - ele dizia, ainda bufando, mas, sua voz estava mais baixa que o normal - Se não me der a formula para minha morte, saiba que comprará uma briga comigo; e eu vou acabar com você, acredite!
-E o que pretende fazer, SuperHomem? Me matar? - disse Lucifer e sua gargalhada abafada ecoou.
O homem que o suspendia jogou para longe, em cima de alguns escombros. Ele voou, caiu, gemeu com o impacto, mas já se ergueu sorrindo; aquilo era o que ele sabia fazer de melhor: irritar as pessoas até elas perderem a cabeça.
-Eu posso muito mais, Lúcifer, do que você imagina - disse o homem - Aprendi a invocar espíritos; espíritos de pessoas que matei. Estão presos a mim, pela maldição que carrego. Elas seguem minhas ordens, posso destroná-lo do Inferno então... Reinarei lá, e você será meu empregado; gosta desta idéia?
Lúcifer fez uma careta. Não havia gostado nada daquela história. Mas o homem poderia estar blefando, ainda assim, precisava de mais informações sobre aquele novo dom que o outro aprendera.
-Não diga uma besteira dessas, meu caro - disse Lúcifer, tentando manter-se tranquilo - Eu controlo o Inferno, e se um espírito está lá, ele é meu escravo, me serve, faz o que eu mando... Você jamais poderá interferir nisso.
-Então vou provar a você.
O homem emudeceu; fechou os olhos. Suas mãos se juntaram, como as de quem reza; então, ele estendeu os braços, como Cristo na cruz, e um círculo de luz vermelha se fez ao seu redor. Ele então falou palavras desconexas, numa língua que talvez nem existisse... E então, algo fantástico aconteceu: Uma coisa que tinha uma aura vermelha escura entrava, arrastando uma corrente grossa por um buraco na parede da capela; uma mulher, de aura vermelha também, vinha caminhando lentamente de outro ponto do local; outro homem, e mais um, e outro, e assim foram vindo, vários, talvez centenas. Todos estavam num círculo, onde o centro dele era Lúcifer e o homem.
-Como aprendeu a fazer isso? - Lucifer dizia, olhando ao redor, assustado com aquilo. Ninguém sabia como enviar espiritos do Inferno para a terra dos mortais... Como ele teria feito aquilo? Quem o teria ensinado?
-Isso não importa agora - disse o homem - Posso mandá-los fazer o que eu quiser, eu os controlo. Matei a todos, mas eles fazem parte da minha maldição, e ainda não estão todos aqui... Ou você me ajuda, ou governarei o Inferno; escolha. E escolha agora.
Lúcifer estava se vendo como jamais havia pensado: encuralado. Poderia resolver aquilo facilmente, dando ao homem a chave para sua morte, mas, ao mesmo tempo, se o fizesse, perderia o ser mais sanguinário que já havia conhecido. Aquele era o homem que havia mandado tanta gente para Inferno quanto poderia ter feito... Não poderia mais contar com os espíritos que o obedeciam, se o deixasse morrer... Em contrapartida, se não o ajudasse, ele faria uma rebelião no Inferno... Certamente ele ficaria muito mais forte se tivesse aquela legião o seguindo. Tinha de pensar rápido. E não poderia falhar.
-Certo - disse ele, por fim - Ajudarei, mas, quero propor um pacto. Serei senhor de todos os espíritos que o respondem hoje, cada um deles. Nenhum acatará ordens suas. E não o quero no Inferno, nem como escravo. Terá de achar outro lugar para viver sua pós-vida.
-Não me interessa o Inferno - disse o homem - Fique com todos, eles não me interessarão quando eu conseguir morrer. Fale, como eu posso morrer... Diga-me.
-Pois bem, - o Diabo falou, sorrindo de soslaio - não será necessário muito trabalho, no máximo terá de esperar um pouco mais...
-Mais?!
-A cada trezentos anos, nosso rivalzinho iluminado lá de cima - disse ele apontando para o céu, fazendo careta - envia uma mensageira para a Terra; normalmente são mulheres fortes, determinadas e que terminam a vida sem ter filhos, geralmente não tem família, e vivem unicamente para propagar a imagem da benevolencia divina, e blá blá blá.
-E o que isso tem a ver comigo?
-Uma mensageira, é uma mulher, mortal, que vive na Terra, mas, que tem um propósito, nas leis Dele - Lúcifer falou - Você pode esperar uma mensageira nascer, ter um filho com ela, e deixar que ele sobreviva com a sua marca... Assim você livra da maldição, passando-a à frente.
O homem olhou-o surpreso, mas parecendo irritado:
-Como acha que vou engravidá-la? Nunca fui capaz de procriar, faz parte da minha maldição.
-E é por isso que você deve procurar Beleth, ele é ótimo nessas coisas, deve conseguir dar um jeito nessa maldição... Do contrário, não faço idéia de como você poderá... Morrer.
-Mas, Beleth? Você não pode fazer nada?
O Diabo riu, sem emoção.
-Eu não posso fazer nada; sou um Imperador... Em você eu não posso tocar, Ele me limitou a isso... Porém, acredito que não sejam todos limitados... Se conseguires engravidar a Mensageira, seus dias estarão contados - Lúcifer falou, olhando o homem com uma certa curiosidade.
-É isso? Depois que ela engravidar eu morro?
-Teoricamente é quase isso - Lúcifer disse, sorrindo-se - eu sou o Diabo, né? Não falo tudo nos mínimos detalhes, senão ninguém aceita trato comigo! - e riu novamente - Na teoria, se ela engravidar, você morre, porque a criança receberá a sua maldição... Mas, pode ser que você não morra assim... De repente você consiga tornar-se mortal de novo, e aí sim, você pode conseguir morrer, se quiser opções, fogo é ótimo. Mata devagar e é bem doloroso.
-Eu preciso saber exatamente como isso funciona, Lúcifer! Nada de trocadilhos idiotas.
-Tô vendo que você não tá de bom humor hoje - o Diabo falou, sentando-se num pedregulho perto - Em primeiro lugar, você precisa saber quando a Mensageira virá à Terra, ou se já está. Em segundo lugar, precisa engravidá-la, por mais horrível que isso seja pra você. Em terceiro lugar, você precisa definir como morrerá, se não acontecer com a gravidez.
-Como descubro quando ela virá?
-Ué, pergunte a mim, pergunta idiota.
O homem estava ficando vermelho, sua raiva transparecia.
-Quando, Lúcifer?
-Bom... Ela deve estar com seus trinta e sete anos... É importantíssimo para mim saber quando uma Mensageira vem... São extremamente irritantes. Elas vem com um 'Sopro de Deus'... O que as deixa invulnerável a muita coisa... Portanto, nem pense em colocar esse seu traseiro gordo no sofá dela, só usando truquezinho de conquistador, não rola. São difíceis. Muito difícieis.
"Uma Mensageira, é capaz de ter sonhos premonitórios, é ótima sensitiva, consegue pedir em nome Dele e ser atendida expressamente... Elas são realmente, filhas do cara.
"Na verdade, elas são Anjos, só que, além de encarnadas, sempre vem na forma feminina.
"Eu, até mesmo eu, o Diabo, acho arriscado demais brincar com as meninas dos olhos Dele. Tem noção do quanto ele vai ficar enfurecido quando descobrir que você engravidou uma de suas crianças? É capaz de ele ressucitá-lo, e te dar mais milênios de vida, de castigo..."
-Ele não pode fazer isso - o homem falou, irritado.
-Ah, sim, Ele pode... Tomara mesmo é que Ele não queira. Ele pode tudo. Tudinho mesmo.
-Então, em que lugar está essa mulher?
-Hum... Está na América do Sul, no Brasil... E se eu fosse você correria pra lá... Porque pelo que conheço dos cariocas, aos trinta e sete anos, ela já não deve ser mais virgem, nem no signo! - disse o Diabo e riu, levantando-se e caminhando para fora das ruínas.
-Como saberei que você está certo e onde encontrá-la?
-Você só precisa ir para o Rio de Janeiro, criança - disse Lúcifer, o chão aos seus pés estava começando a pegar fogo - Eu sou o anjo de luz mais perfeito Dele, acredite-me quando digo: Esta mulher vai mexer com você. Esteja preparado.
E, com uma sonora gargalhada, o Diabo sumiu no fogo aos seus pés, deixando o homem imerso em pensamentos.