E A RAÇA PROSPERARÁ
-Como deusa maior, em sua ausência todos esses anos, vi coisas terríveis acontecendo – ela falou, e uma
lágrima brilhou em seus olhos – Não tínhamos o poder de controlar a morte, podemos arrancar o corpo da terra, mas, a alma jamais... E não tivemos escolha, começamos a procurar uma forma de isso acontecer; qualquer coisa que nos ajudasse a tirar essa raça imunda que vive em nosso mundo... Eles são lerdos, são estúpidos, não evoluem como nós! São criaturas extremamente burras. Não favorecemos em nada para eles há muito tempo... mas, agora, eles já sabem que não podemos matá-los, por isso, não rogam mais por ninguém. Se não nos livrarmos deles o quanto antes, vamos desaparecer.
*pause*
STOP TOTAL!
Essa coisa de ‘vamos de desaparecer’ é uma furada... Eles sempre dizem isso, e ninguém nunca desaparece, é uma espécie de teste de popularidade... Não suporto essas paradas, queria deuses novos também; pensei: não sei o nome dos deuses!
*play*
-Quero saber o nome de vocês, agora – eu falei, e começaram a se apresentar.
-Enayat, deusa da água e da vida.
-Ailatan, deusa da madeira e da saúde.
-Adnama, deusa da caça e da virtude.
-Atam, deusa da floresta e da sabedoria.
-Akissej, deusa da música e do encanto.
-Anilorac, deusa do fogo e da magia.
-Ordnael, deus da terra e da esperança.
-Hum, estranho, enfim... Vocês acreditam que devemos destruir essas criaturas? Sem nem dar-lhes uma chance? Eles é que nos deram fé até hoje! – eu falei, querendo apaziguar as coisas.
-Então você poderia dar um jeito nisso – falou Atam, que foi bastante arrogante no meu ponto de vista. Povo grosso.
-É só matarmos as pessoas, levarmos suas almas... e tudo ficará em paz como sempre! – eu falei, era onisciente, brother... eles não podiam discutir.
-Eles não são criaturas que mereçam nossa atenção! Será que você não vê? Eles são lerdos, sem personalidade... são apenas recipientes onde depositamos nossas frustrações ou alegrias... Eles são ocos por dentro, não aprendem com facilidade... Ficaremos aqui para sempre, e eles continuarão assim, lentos, burros, obedientes... – falou Anilorac, explodindo sua fúria.
-Você sem um computador fica estressada demais, menina... Vou criar computadores em Cinnamon – eu falei, para a réplica viva de Carolina á minha frente.
-O que? – ela perguntou, com cara de surpresa e curiosidade.
-Vamos votar, então – eu falei, como sempre, o diplomático... inferno de diplomacia... queria era tacar fogo em tudo, mas, os cabeçudos eram maneiros – Quem é a favor do extermínio total dos Humns, para que uma nova raça seja criada e que possa prosperar, segundo as teorias de Atam, por favor, levante a mão.
Só Enayat não levantou a mão. Afinal, ela era deusa da vida, enquanto houvesse vida, ela estaria ali, presente, concebendo milhares de filhos para aqueles bilhares de seres cabeçudos que estavam superlotando o meu mundo!
-Acredito que possamos resolver tudo isso, fazendo com que o percurso da vida siga, como deve ser – disse Enayat, em sua imponência – Que a morte leve os idosos e os enfermos, mas, que possamos rogar pelos que ainda rezam em nosso nome. Quantos altares temos em todo o mundo. Somos amados e adorados por eles... uma nova raça, pode não nos deixar no poder por muito tempo. Veja como é o Outro Mundo! Lá eles matam deuses e criam outros... Não podemos simplesmente esquecer que o que somos até aqui devemos a eles.
-Só porque você é beneficiada demais com isso, Enayat! – disse Adnama, levantando-se repentinamente – seu poder aumenta com a vida, quanto mais almas o mundo tiver, mais forte você fica... Mas, já não há animal suficiente a ser caçado, não peixe a ser pescado... estamos vivendo uma crise... porque o povo come mais do que produz... Estamos vivendo uma era de transformação!
-E Transformando o mundo, transformaremos os Humns. Eles não devem ficar em nosso mundo; demos a terra para cultivo, os animais para a caça e água para matar sua sede... e olha o que eles fizeram? Destruíram tudo. Não são dignos – falou Atam.
-O erro não é deles, Atam! – eu falei, e no segundo seguinte, me arrependi, sabia que ia ter que assumir aquela merda... já tava puto de só fazer merda naquela porra – Se eu tivesse permitido que as almas fossem levadas, que as pessoas morressem, com certeza não estaria assim... A culpa... É minha.
Todos se entreolharam, certamente já tinham chegado àquela conclusão antes de mim. Não interessava, eu estava deixando o orgulho de lado e fazendo o papel de homem que me cabia. Assumindo a responsabilidade.
-Vamos lhe mostrar como serão as novas criaturas, venha – disse Atam, andando para fora da mesa.
Ali atrás, alguns centímetros do chão, uma bola luminosa pairava no ar, apenas um brilho avermelhado ela emanava; Atam tocou a bola de luz, e ela começou a escurecer e tomar forma, bem á minha frente.
Ali, parado, de pé, encontrava-se um ser nu, menor que eu uns vinte centímetros; tinha orelhas bem humanas, mas, eram pontudas para cima; era magro e esguio, tinha poucos pêlos por todo o corpo e narizinho fino e quase inexistente; os cabelos eram claros, mas a pele era parda, nem preto, nem branco...
-Esta é a criatura de nosso novo reino – ela disse, orgulhosa – Todos nós participamos da criação; ele deve ser menor, para desde já mostrarmos nossa superioridade; soprei-lhe alguns conhecimentos, para que seja sábio; Anilorac deu-lhe uma fagulha de magia, para que possam resolver seus pequenos problemas sozinhos; Akissej encantou-o com a beleza de um deus, para que sempre lembrem de nós, mesmo que não haja fé, haverá vaidade; Adnama deu-lhe várias virtudes, para que possam ser diferentes, mas, iguais; Ordnael deu-lhe a esperança de um mundo novo e próspero; Ailatan preencheu-os de saúde, para que possam sobreviver aos perigos de um mundo novo... Falta apenas que Enayat sopre vida nele... E você precisará despertá-lo.
*pause*
Choquei completamente, né?
Os caras haviam trabalhado a idéia de criar aquela criaturinha que era bem mais bonita das que eu havia feito... E eles eram tão bonitinhos, eram magros, como os anteriores, mas, não tinham aquela cabeça enorme, e não eram bizarramente feios.
Me senti um deus de Merda por ter criado umas aberrações daquelas... e vi que era bom.
*play*
Voltamos a mesa de pedra e eu falei, ainda emocionado com o que estava prestes a fazer.
-A nova raça prosperará, serão felizes no nosso mundo, mas, os Humns não deixarão de existir – e todos os deuses ficavam boquiabertos – Não, eu não quero deixar a todos eles, juntos... Mas, os Humns, por sua falta de conhecimentos e lentidão, serão mantidos nas cavernas, nos túneis e nas montanhas... não poderão conviver em sociedade com a nova raça, e, pela lentidão dos Humns, demoraremos bastante a termos noticias de que os Humns e a nova raça se encontraram. Os velhos e enfermos morrerão, pois é o desejo deles. E eu me encarregarei de levá-los, a um caminho melhor. Quanto aos outros, cairão em sono profundo, e eu os levarei para os subterrâneos e quando acordarem, não lembrarão de vida fora daquele lugar.
-É justo, senhor – disse Enayat, concordando com a cabeça.
-Ailatan e Akissej, por favor, preciso que façam com que eles caiam num sono profundo... Ailatan, separe os enfermos e idosos... Temos muito que fazer.
*pause*
eu estava me sentindo muito deus... eu havia acabado de aprovar um projeto de vida, bicho! Tirei muita onda, cara... queria ser sempre inteligente daquele jeito...
*play*
-Qual será o nome da nova raça? – perguntei, curioso.
-Liph, os Liphs!
-Hum, um tanto obvio, mas, tudo bem... É com vocês mesmo – eu falei, sorrindo, achando graça daquela coisa toda, de uma hora pra outra.
Quando tudo terminou. E as deusas voltaram, informando que já estava tudo pronto para que começássemos os trabalhos de redefinição de tudo, fomos nós para a mesa, de onde conseguíamos ver tudo...
Eu fiz com que uma peste assolasse vilas, aldeias, reinos e cidades inteiras... vi as pessoas morrendo (tudo bem que eles eram feios, mas, era triste ver a tristeza daquelas famílias... =/ ), e aquilo fez com que eu me sentisse mal; não era bom matar ninguém.. e aquele lugar deveria esticar de acordo com a população... e não obrigar-nos a tirar nossos próprios sonhos de onde estão...
Enquanto isso, Ordnael preparava túneis e imensos buracos no fundo do mundo, para que os Humns pudessem continuar a viver; Enayat enviou tsunames do tamanho das montanhas, que, não afogavam os Humns que nós não queríamos. Anilorac lançou centenas, talvez milhares e bilhares de bolas de fogo, que vinham do espaço, e destruíam tudo o que viam pela frente... era o mundo, acabando, para que começasse de novo. Com os poderes de Atam, as florestas logo voltaram a florescer de novo, e tudo o que era bom manteve-se no mundo... como se nunca tivesse havido qualquer criatura naquelas terras.
Acordei os Liphs... Separamos eles por regiões, acreditávamos que dessa forma, seria mais interessante quando eles se encontrassem... Iam brigar por tudo mesmo, melhor seria se eles pudessem brigar pelas coisas muito tempo depois...
-Atam? Como faço para voltar à Cinnamon? Eu não posso usar Avre sempre... Não tenho Avre sempre... – eu falei, meio irritado com aquilo, como poderia eu, ser onisciente e nem ao menos saber como entrar no meu mundo?
-Só com o uso da Avre, não há outro jeito – ela falou, superior – O senhor pode levar um pé da árvore... Assim terá sempre que quiser.
-Levar um pé? Não, não... Eu não saberia cuidar da plantinha... Não poderia ser... através de magia, talvez? – arrisquei.
-A magia não funciona em seu mundo... O que nos liga ao mundo em que vive, é a Avre... Não conseguimos identificar nenhuma outra coisa que faça isso – ela dizia – Com os Liphs será muito mais fácil. Eles descobrirão coisas nesse mundo enorme...
-Espero que sim... Mas, acho que vou levar uma boa quantidade dessa coisa... Preciso muito provar pra CERTAS PESSOAS – e gritei para que aquelas safadas fantasiadas de deusas pudessem ouvir – que este lugar existe.
Atam fez um vaso com uma plantinha bonita, de folhas grandes e uns frutos verde limão aparecesse, bem diante dos meus olhos... e me entregou. Aquela era a árvore mais preciosa da minha vida.
-Beuz não vai gostar nada disso... – Atam falou, de repente, enquanto caminhávamos pelos campos próximos – Ele vai precisar se popularizar entre os novos habitantes... Quando eles descobrirem que existem mais deles por aí, e começarem e se comportar como uns idiotas que querem as terras uns dos outros, Beuz estará lá, para servir seus conselhos de guerra...
-Vai demorar muito até que eles consigam esse poder todo, calma... – eu falei, os caras nem tinham feito fogo ainda, imaginei como seriam os pulos depois que eles descobrissem que queimava.
-Espero que sim, porque, quando as batalhas começarem, eles vão precisar conhecer muito de nós... Temos que firmar nossa fé.
-Não dá pra adiantar isso? Temos que ver eles descobrindo tudo? Cada coisa? – eu perguntei, vendo que os Liphs andavam de um lado pro outro, encontrando coisas, e pulando feito macacos, quando algo os chamava a atenção.
-Não, não podemos adiantar o tempo... mas podemos ver o futuro, quer?
-Ver o futuro? Ah, deixa pra outra hora, agora, to indo dormir...